sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Síndrome do Onanismo Eletrônico

Sei que você passa longas horas no computador navegando a bordo de todas as ferramentas disponíveis. Não lhe invejo a adolescência. Na sua idade, eu me iniciava na militância estudantil e injetava utopia na veia. Já tinha lido todo o Monteiro Lobato e me adentrava pelas obras de Jorge Amado guiado pelos “Capitães de areia”.
A TV não me atraía e, após o jantar, eu me juntava à turma de rua, entregue às emoções de flertes juvenis ou sentar com meus amigos à mesa de uma lanchonete para falar de Cinema Novo, bossa nova – porque tudo era novo – ou das obras de Jean Paul Sartre.
Sei que a internet é uma imensa janela para o mundo e a história, e costumo parafrasear que o Google é meu pastor, nada me há de faltar...
O que me preocupa em você é a falta de síntese cognitiva. Ao se postar diante do computador, você recebe uma avalanche de informações e imagens, como as lavas de um vulcão se precipitam sobre uma aldeia. Sem clareza do que realmente suscita o seu interesse, você não consegue transformar informação em conhecimento e entretenimento em cultura. Você borboleteia por inúmeros nichos, enquanto sua mente navega à deriva qual bote sem remos jogado ao sabor das ondas.
Quanto tempo você perde percorrendo nichos de conversa fiada? Sim, é bom trocar mensagens com os amigos. Mas, no mínimo, convém ter o que dizer e perguntar. É excitante enveredar-se pelos corredores virtuais de pessoas anônimas acostumadas ao jogo do esconde-esconde. Cuidado! Aquela garota que o fascina com tanto palavreado picante talvez não passe de um velho pedófilo que, acobertado pelo anonimato, se fantasia de beldade.
Desconfie de quem não tem o que fazer, exceto entrincheirar-se horas seguidas na digitação compulsiva à caça de incautos que se deixam ludibriar por mensagens eróticas.
Faça bom uso da internet. Use-a como ferramenta de pesquisa para aprofundar seus estudos; visite os nichos que emitem cultura; conheça a biografia de pessoas que você admira; saiba a história de seu time preferido; veja as incríveis imagens do Universo captadas pelo telescópio Hubble; ouça sinfonias e música pop.
Mas fique alerta à saúde! O uso prolongado do computador pode causar-lhe, nas mãos, lesão por esforço repetitivo (ler) e torná-lo sedentário, obeso, sobretudo se, ao lado do teclado, você mantém uma garrafa de refrigerante e um pacote de batatas fritas...
Cuide sua vista, aumente o corpo das letras, deixe seus olhos se distraírem periodicamente em alguma paisagem que não seja a que o monitor exibe.
E preste atenção: não existe almoço grátis. Não se iluda com a ideia de que o computador lhe custa apenas a taxa de consumo de energia elétrica, as mensalidades do provedor e do acesso à internet. O que mantém em funcionamento esta máquina na qual redijo este artigo é a publicidade. Repare como há anúncios por todos os cantos! São eles que bancam o Google, as notícias, a wikipédia etc. É a poluição consumista mordiscando o nosso inconsciente.
Não se deixe escravizar pelo computador. Não permita que ele roube seu tempo de lazer, de ler um bom livro (de papel, e não virtual), de convivência com a família e os amigos. Submeta-o à sua qualidade de vida. Saiba fazê-lo funcionar apenas em determinadas horas do dia. Vença a compulsão que ele provoca em muitas pessoas.
E não se deixe iludir. Jamais a máquina será mais inteligente que o ser humano. Ela contém milhares de informações, mas nada sabe. Ela é capaz de vencê-lo no xadrez – porque alguém semelhante a você e a mim a programou para jogar. Ela exibe os melhores filmes e nos permite escutar as mais emocionantes músicas, mas nunca se deliciará com o amplo cardápio que nos oferece.
Se você prefere a máquina às pessoas e a usa como refúgio de sua aversão à sociabilidade, trate de procurar um médico. Porque sua autoestima está lá embaixo e o computador não haverá de encará-lo como se fosse um verme. Ou sua autoestima atingiu os píncaros e você acredita que não existem pessoas à sua altura, melhor ficar sozinho.
Nas duas hipóteses você está sendo canibalizado pelo computador. E, aos poucos, se transformará num ser meramente virtual. O que não é uma virtude. Antes, é a comprovação de que já sofre de uma doença grave: a síndrome do onanismo eletrônico.
Frei Betto é escritor, autor do livro de contos “Aquário Negro” (Agir), entre outras obras.

Copyright 2009 – FREI BETTO

terça-feira, 17 de novembro de 2009

domingo, 15 de novembro de 2009

DEUS e a Criação


By www.umsabadoqualquer.com

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Quem me roubou de mim?



Sentido é tudo aquilo que atribui coerência, liga, orienta e estrutura. É a partir deste horizonte de sentido que pensamos, agimos, amamos, desejamos, vivemos. Somos e estamos estruturados a partir de realidades que significam, isto é, realidades que nos revelam e que condensam um poder de nos fazer avançar os territórios da existência, de irmos além.


Estes significados assumem os mais diversos formatos em nossa condição humana. Eles evoluem para a condição de valores e assim se tornam fundamentais para a qualidade de nossa atuação no mundo. Os significados qualificam nossa existência.


Essa gama de significados, de valores, ocupa espaços muito diferentes na vida das pessoas, de maneira que se para uma pessoa aquilo é fundamental em termos de significado, para outra pode ser mero detalhe.


Na vida, estamos constantemente descobrindo o que nos faz buscar inteireza. A metáfora é interessante e pode nos ajudar a compreender melhor: o mosaico é feito de partes; essas partes se conjugam e compõem uma única peça. São inúmeros e pequenos significados que constroem a trama do mosaico. A pequena peça é fundamental para a construção de todo, e por isso não pode ser negada, separada. Assim somos nós.


(Fábio de Melo – Quem me roubou de mim? – pág. 16)


Add By Janete

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Delumeau cita Pierre Bayle


Delumeau cita Pierre Bayle (1646-1707) que rejeitou a explicação clássica do sofrimento humano como resultado do pecado original: “A maneira pela qual o mal se introduziu sob o império de um ser infinitamente bom, infinitamente santo, infinitamente poderoso é não apenas inexplicável, mas até mesmo incompreensível”.

Veja mais em >> Soli Deo Gloria. In Hoc Signus Vinces

terça-feira, 28 de julho de 2009

VACUUM


"Nature abhors a vacuum."


Benedict Spinoza
[Ethics]

domingo, 26 de julho de 2009

A PAZ




A paz não é a mera ausência de guerra, mas é uma força que nos impulsiona para um determinado estado de espírito, é uma disposição para bondade, confiança e justiça.


Banedictus Espinosa

sexta-feira, 24 de julho de 2009

ELUCUBRAÇÕES



O conceito de necessidade proposto por Espinosa foi principalmente porque ele era contra a idéia cristã de livre-arbítrio (free will). Espinosa criou um sistema em que necessidade = liberdade, algo totalmente novo na história da filosofia.

Marilena Chauí em entrevista acerca do seu monumental livro "A Nervura do Real".

Essas discussões são ótimas como terapia, como preparação para a Filosofia Perene. Acabar com qualquer resquício da idéia de um Deus Criador é um bom exemplo do poder de Espinosa.


[Paul Davies]

"Ao referir-se à pergunta sobre a liberdade de Deus em criar um mundo à sua escolha, Einstein aludia a Benedictus
Spinoza, filósofo do século XVII. Spinoza era panteísta, encarava os objetos do universo físico como atributos, e não
como criação de Deus. Ao identificar Deus e natureza, Spinoza rejeitou a idéia cristã de uma Divindade transcendente que criara o universo num ato livre. Além disso, Spinoza não era ateu: acreditava dispor de uma prova lógica de que Deus tem de existir. Dado que identificava Deus e o universo físico, esta identificação constituía uma prova de que nosso universo particular também tem de existir. Para Spinoza, Deus não teve escolha nesse ponto: "As coisas não poderiam ter sido geradas por Deus de qualquer outra maneira ou em qualquer ordem diferente da que de fato obteve", escreveu ele."

Spinoza não era panteísta, mas é difícil entender as peculiaridades nisto envolvidas. Veja mais na entrevista. Eu vejo assim: Marilena Chauí usa o conceito vulgar de panteísmo ("Deus=Mundo") ao negá-lo em Spinoza. Mas o conceito sofisticado de panteísmo ("Deus não está separado de suas manifestações", ou mesmo "Deus é, também, o mundo inteiro"), talvez se assemelhe com o pensamento de Spinoza.

"[...] como tudo decorre de necessidade lógica, a natureza do universo seria dedutível da mera razão. "Considero que é verdade", escreveu Einstein quando andava flertando com essa idéia, "que o pensamento puro pode apreender a realidade, como sonhavam os antigos [...] Por meio de construções puramente matemáticas, podemos descobrir os conceitos e as leis que os articulam uns aos outros, estando aqui a chave para a compreensão dos fenômenos naturais." Claro que podemos não ter inteligência suficiente para realmente chegar aos conceitos e às leis corretas apenas pela dedução matemática, mas não é disto que se trata. Se este esquema explicativo fechado fosse sequer possível, nosso pensamento sobre o universo, e o nosso lugar dentro dele, sofreriam profunda alteração. mas será que essa pretensão à completeza e à unidade tem algum fundamento, ou não passa de uma vaga esperança?""

O pensamento não pode abarcar a realidade inteira justamente por ser parte dela. As teorias representacionistas (a mente apenas representa o mundo e podemos representar todas as coisas, pois tudo é inteligível) estão acabando. David Bohm, Humberto Maturana, Edgar Morin, Kant, Wittgenstein, Nagarjuna... todos são contra o representacionismo.

A "Ética" é de dificíl compreensão. Vou fazer apenas uma pequena abordagem sobre o tema da “Ética” apenas na Parte III e isso já é um problemão. Abaixo vou tentar apenas esboçar a idéia geral apenas como uma propedêutica.


"Spinoza define Deus em Ética:

I. Por causa em si entendo aquilo cuja essência envolve a existência; ou por outras palavras, aquilo cuja natureza não pode ser concebida senão como existente.

Deus é tudo e o todo. Tudo existe em Deus, como modos finitos singulares de seus infinitos atributos. Eternidade, para Espinosa, nada mais é que a identidade entre existência e essência. Infinito não é algo sem fim, mas um único ponto que a tudo contém: a idéia de um infinito atual (ver mais em "Correspondência",
na coleção Os Pensadores)


II. Diz-se que uma coisa é finita no seu gênero quando pode ser limitada por outra coisa da mesma natureza.

III. Por substância entendo o que existe em si e por si é concebido, isto é, aquilo cujo conceito não carece do conceito de outra coisa do qual deva ser formado.

Só há uma substância - impossível a existência de dois infinitos (ou dois Deuses). Essa substância é Deus. O homem é um modo (uma modificação) de dois atributos (extensão e pensamento) da única substância.

IV. Por atributo entendo o que o intelecto percebe da substância como constituindo a essência dela.

V. Por modo entendo as afecções da substância, isto é, o que existe noutra coisa pela qual também é concebido.

VI. Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, cada um
dos quais exprime uma essência eterna e infinita.

Somos mortais, mas eternos. Eternos em Deus.

VII. Diz-se livre o que existe exclusivamente pela necessidade da sua natureza e por si só é determinado a agir; e
dir-se-á necessário, ou mais propriamente, coagido, o que é determinado por outra coisa a existir e a operar de certa e determinada maneira.

Liberdade não é escolha dentre alternativas. Liberdade é ação consciente, ação necessária, daquele que expressa a sua natureza. Por exemplo, Espinosa diz que a natureza da mente é conhecer. Livre é aquele que conhece, que expressa a sua natureza. A felicidade acompanha este processo. E o pensador acrescenta: quanto mais o homem conhece, mais ele é livre, e mais ele fica feliz.

VIII. Por eternidade entendo a própria existência enquanto concebida como sequência necessária da mera definição de coisa eterna.

Seria impossível a não-existência de algo eterno. Por exemplo, você tem de existir, pois eternidade é o sem-tempo (Spinoza concorda com a Filosofia Perene, neste ponto). Se Deus é pura perfeição, infinitos atributos, e tudo já existe, pois é eterno, você necessariamente existe.

Explicação: Pois que tal existência se concebe, assim como a essência da coisa, como verdade eterna, daí resulta que não pode ser explicada pela duração ou pelo tempo, ainda que se conceba a duração sem começo nem fim.

Espinosa nunca trabalha com o conceito de tempo como realidade, e sim com a idéia de duração.
A duração é a nossa existência. Tempo é um modo de pensar a duração (ver "Pensamento Metafísicos", na coleção "Os Pensadores").


Spinoza define essência:

“Digo que pertence à essência de uma coisa aquilo que, sendo dado, faz necessariamente com que a coisa exista e que, sendo suprimido, faz necessariamente com que a coisa não exista; por outras palavras, aquilo sem o qual a coisa não pode nem existir nem ser concebida e, reciprocamente, aquilo que, sem a coisa, não pode nem existir nem ser concebido."

"Por Deus entendo o ente absolutamente infinito, isto é, uma substância que consta de infinitos atributos, cada um dos quais exprime uma essência eterna e infinita."

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Sonhar


“De sonhar ninguém se cansa,
porque sonhar é esquecer,
e esquecer não pesa
e é um sono sem sonhos em que estamos despertos.”


- Fernando Pessoa -
Livro do Desassossego
Add: By Janete

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Only You


“Ninguém pode construir em teu lugar as pontes que precisarás passar
para atravessar o rio da vida. Ninguém, exceto tu, só tu.
Existem, por certo, atalhos sem número, e pontes, e semideuses que se oferecerão para levar-te além do rio, mas isso te custaria a tua própria
pessoa: tu te hipotecarias e te perderias.
Existe no mundo um único caminho por onde só tu podes passar.
Aonde leva? Não perguntes, siga-o!”

Add.: By Janete Vogt

sábado, 11 de julho de 2009

Sequência Temporal


O homem cria, pela
seqüência temporal
de imagens que forma
na mente, uma ordem
natural. O desespero se
instala quando surge
o acaso e esta ordem
imaginária é rompida

Julgamento


Todo julgamento se dá
a partir das impressões
que foram causadas em
nós por outros corpos.
Se as modificações
nos são desfavoráveis,
julgamos o outro como
sendo, em si, mau

Ilusões


Uma das ilusões da
consciência é atribuir
a uma entidade
sobrenatural a intenção
de produzir algo que não
se consiga explicar por
uma finalidade humana,
como um terremoto

Consciência Reflexiva


A consciência é reflexiva:
é a idéia da idéia das
modificações pelas
quais o corpo passa.
Temos consciência, por
exemplo, ao saber que
estamos com ódio

A Ordem


A ordem é uma ilusão
construída pela mente.
A vida humana torna-se
pesada quando se
tenta, a todo momento,
corrigir a falta dessa
ordem imaginária

Corpus


O corpo sempre está em contato com
outros corpos de diferentes naturezas
e tamanhos. Isso altera as relações de
movimento de suas partes e leva a mente
a produzir idéias inéditas e singulares



Baruch Spinoza
By Jorge Luis Borges

Como ouro névoa, o oeste acende
A janela. O diligente manuscrito
Aguarda, já carregado com o infinito.

Alguém está construindo Deus no crepúsculo.
Um homem engendra Deus. Ele é um judeu
De olhos tristes e pele amarelada.

O tempo carrega-o como o rio leva
Uma folha em água corrente.

Não importa. O encantado insiste
E modela Deus com delicada geometria.

Desde a sua doença, desde o seu nascimento,
Ele constrói Deus com a palavra.

Os poderosos laços de amor lhe foram concedidos
Amor que não espera ser amado.

Jorge Luis Borges
Tradução Livre: Cicerodovale@yahoo.com.br

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Dutch Comics


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quinta-feira, 25 de junho de 2009

quarta-feira, 24 de junho de 2009

ALÉM DA CRENÇA: INTRODUZINDO SPINOZA

BARUCH SPINOZA, O JUDEU RENEGADO QUE NOS DEU A MODERNIDADE.

Seus contemporâneos o chamaram o "Satanás encarnado" e "o ateu mais incrédulo que já viveu sobre a face da terra."

Mas agora ele é venerado como o maior questionador filósofo desde Platão, como o teorista político que primeiro enunciou os princípios gerais para uma sociedade democrática secular e em muitas formas um santo moderno.

Baruch, mais tarde Benedict, de Spinoza (1632-77) dedicou a sua vida adulta a refletir sobre os maiores questionamentos sobre todas as coisas: a natureza de Deus e o universo, a função da religião, a indagação do homem sobre a felicidade, os ideais do governo, como nós deveríamos administrar nossas vidas, etc.

Era próprio dele uma simplicidade absoluta - um quarto alugado, uma pequena sopa de aveia para ceia, ocasionalmente um pouco de tabaco, a maioria disto pagou com seus poucos ganhos como um fabricante de lentes. Mas, como o poeta Heinrich Heine disse; "Todos nossos filósofos modernos... vêem através dos óculos de Baruch Spinoza".

Os últimos anos viram interesse renovado em Baruch Spinoza, inclusive a publicação de nada menos que três livros popularmente comercializados sobre o filósofo e as suas idéias.

O mais recente destes é de Rebecca Goldstein chamado "Betraying Spinoza: The Renegade Jew Who Gave Us Modernity" (Traindo Spinoza: O judeu Renegado Que Nos Deu a Modernidade." Até mesmo o título do livro requer explicação. "Betraying Spinoza"(Traindo Spinoza), Goldstein, novelista e professora de filosofia examina Spinoza o homem e a comunidade judia de Amsterdã da sua mocidade para saber que influência, ela teve sobre seu modo de ver as coisas.

Esta é uma tarefa, Rebecca admite que Spinoza não teria endossado. A base de sua filosofia é que a verdade é descoberta através da razão. Assim, a verdade é igualmente acessível a todos, independente de cada circunstância.


O judeu renegado

No seu "Tratado Teológico-Político", Spinoza (1632-1677) expõe os seus argumentos contra a superstição, a religião organizada, a veracidade da Bíblia e a revelação divina em geral.

Como se isso não fosse bastante, na "Etica", Spinoza "prova" a existência de Deus, mas de modo que poucos judeus (ou cristãos) podem aceitar - ele discute que Deus e a natureza são o mesmo.

Deus é o universo e tudo no universo é um aspecto de Deus.

Deus não tem nenhuma vontade própria, não ouve nenhuma oração e não espera nenhuma adoração.

Devoção, para Spinoza, é usar a razão simplesmente para entender natureza.

A visão panteísta de Spinoza sobre Deus era pouco mais que ateísmo aos olhos dos seus contemporâneos. Mas desde então atraiu partidários como Albert Einstein e Carl Sagan.

Visões radicais

Em suma, as opiniões de Spinoza foram demasiado radicais, mesmo para a sua Holanda e, especialmente, para sua próspera, mas cautelosa comunidade judaica de imigrantes Portugueses. Em 1656, a comunidade judaica de Amsterdam excomungou o jovem perturbador herege, um ato que Spinoza agradeceu e que o libertou fazendo-o avançar com a sua filosofia.

"Que Nos Deu a Modernidade." Enquanto atacava a religião revelada no seu "Tratado", Spinoza também defendia, antes mesmo de John Locke e outros pensadores que diretamente influenciaram os Pais Fundadores da América, os princípios da liberdade de expressão e do livre pensamento que entesouraram na Primeira Emenda.

Como um dos mais radicais filósofos do Esclarecimento, as idéias de Spinoza permearam as revoluções da América até Europa, mesmo sendo ele muito controverso para ser citado. (Spinoza era incompatível com a aplicação da tolerância religiosa, mas era assim quase todos os outros pensadores políticos do seu tempo, inclusive Locke.)

Goldstein dá aos leitores uma fácil introdução à filosofia da Spinoza. Isto é apreciado porque Spinoza faz a sua argumentação com precisão geométrica, mas elas não são, no entanto, para iniciantes. Ela é bem sucedida na sua tarefa de olhar para o homem e o seu meio para explicar as suas idéias?

Para parafrasear: "Nenhum filósofo é uma ilha." Enquanto Spinoza confiava apenas na razão para chegar às suas conclusões, Goldstein deixa pouca dúvida de que as experiências de Spinoza, e as experiências dos seus compatriotas judeus, deram-lhe alguma coisa contra a qual ele se rebelou. Será que ele tinha feito suas descobertas, sem este impulso? Quem saberá?

História anexa

Em todo caso, a história da comunidade judia de Spinoza, de sua perseguição pela Inquisição espanhola, sua ida para Portugal e depois para a Holanda, é emocionante a leitura para nosso conhecimento. Ao término do livro, Goldstein completa a sua "traição" descrevendo, com alguma licença novelística, a mocidade de Spinoza e desencanto crescente com os seus professores religiosos. Tudo isso, tirado de registros históricos e dele mesmo, anotações fragmentárias de Spinoza, não é estrita a verdade. Spinoza não teria aprovado, Goldstein nos lembra.

Mas o seu retrato simpático de filósofo solitário que amou tanto o pai que manteve-se silencioso até a morte do seu pai e a sua perseguição subseqüente da verdade às custas dos amigos e da família, é pungente e inspirador.

E se "Traindo Spinoza" encoraja as pessoas a lerem os livros de Spinoza, então Spinoza poderia tê-lo aprovado afinal de contas.


Wie lieb ich diesen edlen Mann, mehr als ich mit Worten sagen kann.


Quanto eu amo aquele homem nobre, mais do que poderia dizer com palavras.


Estas são as primeiras linhas de um poema intitulado "Zu Spinozas Ethik" (Sobre a Ética de Spinoza) que Einstein compôs em 1920. A data precisa não é conhecida, mas eu gosto de pensar que a visita de Einstein a casa de Spinoza em Rijnsburg no dia 2 de novembro daquele ano evocou esta expressão emocional.